Por
Ronilson de Sousa
O
fascismo é uma alternativa de extrema-direita, do grande capital, apoiado,
fundamentalmente, na pequena burguesia, mas com influência, também, sobre a
classe trabalhadora. Nesse sentido, trata-se de um fenômeno de massa.
O
contexto de crise do capital - de desespero social, de angústia, de
incompreensão (ou compreensão difusa) do que está acontecendo, e a vontade de
mudar, a qualquer custo - é o solo ideal para o desenvolvimento do movimento
fascista. Nesse contexto de crise, a pequena burguesia, arruinada pelo grande
capital e com medo da revolução proletária, impulsiona o mito do nacionalismo
como algo acima das contradições de classe. Esse projeto exerce influencia
sobre setores da classe trabalhadora, que anseiam fazer parte dessa
“comunidade”. (1) (2)
Trotsky
analisava que: “O fascismo recruta seu material humano sobretudo no seio da
pequena burguesia. Esta termina sendo arruinada pelo grande capital, e não
existe saída para ela na presente estrutura social: porém não conhece outra.
Seu descontentamento, revolta e desespero são desviados do grande capital,
pelos fascistas, e dirigidos contra os operários. Pode-se dizer do fascismo que
é uma operação de "deslocamento" dos cérebros da pequena burguesia no
interesse de seus piores inimigos. Assim, o grande capital arruína inicialmente
as classes médias e, em seguida, com a ajuda de seus agentes mercenários - os
demagogos fascistas -, dirige a pequena burguesia submersa no desespero contra
o proletariado.” (3)
Dessa
forma, é importante ressaltar que: a) além da crise do capital, o fascismo é
viabilizado no cenário de derrota da classe trabalhadora e suas organizações
políticas. Historicamente, por exemplo, setores reformistas, ao levarem adiante
a derrota da classe trabalhadora, abriram caminho para o movimento fascista. b)
trata-se de um movimento de extrema direita, porque o seu objetivo é a
continuidade da acumulação capitalista, quebra da institucionalidade
democrática e execução dos seus adversários políticos. Como o Trotsky afirma:
“A função histórica do fascismo é esmagar a classe operária, destruir suas
organizações, sufocar a liberdade política, quando os capitalistas se sentem
incapazes de dirigir e dominar com a ajuda da maquinaria democrática.”
Em
síntese, algumas características do fascismo são: um movimento de extrema
direita, baseado fundamentalmente na pequena burguesia, mas com influência
sobre a classe trabalhadora, que realiza um projeto do grande capital. É um
movimento de massas, que se desenvolve em momentos de crise, com objetivo de
preservação da ordem capitalista, quebra da institucionalidade democrática e
execução de seus adversários políticos.
Pois
bem... Nós estamos vivendo uma conjuntura mundial de profunda crise do capital
e presença marcante da extrema direita no cenário político. O sistema
imperialista atua com uma forma política ainda mais agressiva (e xenofóbica),
para se apropriar das riquezas de vários países, explorar trabalhadores e
garantir as taxas de lucro de grandes capitalistas. As classes dominantes
precisam retirar o capitalismo da crise, retirando direitos, aumentando o grau
de exploração, restringindo liberdades democráticas. Para viabilizar isso, para
combater e/ou evitar movimentos da classe trabalhadora, elas lançam mão de
alternativas de extrema direita e do fascismo.
No
Brasil, a crise do capital erodiu as bases da política de colaboração de
classes do Partido dos Trabalhadores (PT), e os setores burgueses, que antes o
apoiavam, migraram para a oposição, para viabilizarem um ataque, de forma mais
rápida e profunda, sobre os trabalhadores. Eles impulsionaram mobilizações de
grupos de extrema direita e fascistas (que já haviam se apresentado nas
manifestações que ocorreram em 2013), em torno do impeachment de Dilma Rousseff
(PT), ainda no final de 2014, quando, o então candidato do PSDB, Aécio Neves,
contestou o resultado das eleições daquele ano.
O
golpe, em 2016, articulou essas mobilizações, sobretudo dos setores médios, com
ação parlamentar, jurídica e midiática. Jair Messias Bolsonaro, então deputado
federal, começou a ganhar destaque nesse contexto, pelo apoio ao golpe contra o
governo Dilma, pelos seus discursos conservadores, antiesquerda e
anticomunista, seu apoio à tortura, à ditadura empresarial militar de 1964,
suas posições contra mulheres, homossexuais, negros, indígenas.
A
eleição de Bolsonaro significa a continuidade e o aprofundamento do golpe. O
movimento bolsonarista é de extrema direita, baseado fundamentalmente na
pequena burguesia, com influência sobre os trabalhadores, que realiza um
projeto do grande capital. Possui várias outras características, como o
nacionalismo-fraudulento (sobretudo pela submissão aos EUA), o racismo, a
xenofobia, a homofobia, o machismo. Seu principal objetivo é aprofundar o golpe
contra a classe trabalhadora, retirar direitos, destruir liberdades
democráticas, combater suas organizações, e consolidar um realinhamento
político-econômico internacional do Brasil de maneira ainda mais subalterna aos
EUA, e impulsionar este último em seu avanço e domínio sobre a América Latina.
Nesse sentido, Bolsonaro e o movimento bolsonarista são fascistas, ainda que não tenham consolidado um regime fascista no Brasil. A consolidação de um regime fascista pressupõe a destruição da institucionalidade democrática e uma mudança do Estado (4). Isso, ainda, não aconteceu, embora estamos vendo as investidas nessa direção.
Referências
(1)
Leandro Konder, no livro “Introdução ao Fascismo”, publicado pela editora
Expressão Popular.
(2)
Mauro Luis Iasi, no texto “Nosso guia na floresta de papel: artífice da palavra
clara”, no livro Introdução ao Fascismo, de Leandro Konder, publicado pela
editora Expressão Popular.
(3)
Leon Trotsky, no texto “Aonde vai a França?”, disponível em: https://www.marxists.org/portugu…/trotsky/…/franca/cap01.htm
(4) Mauro Luis Iasi, em debate sobre
“Os riscos de um fascismo à brasileira”, disponível em: https://www.facebook.com/npcinstitucional/videos/2543862585847457/
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