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Imagem/Google |
Diversos e Livres
Por Ivânia Freitas*
Um dia desses eu vi circular no Facebook, um vídeo com uma criança vestida em uma farda, aparentemente, no espaço escolar. Nele, o menino mostrava-se bastante agressivo, batia em duas mulheres que tentavam contê-lo, enquanto um homem filmava a cena, já antecipando o que a criança faria, pois segundo ele, aquele comportamento lhe era comum. Em um dado momento, a criança inconformada com as tentativas das mulheres de fazê-la parar com as agressões, dirigiu-se a uma parte do jardim, pegou vários galhos de uma planta e voltou para bater nas mulheres com uma fúria incontrolável, ainda que não tivesse mais do que cinco a seis anos de idade.
A cena de uns quatro minutos de vídeo estava sendo divulgada seguida de muitos comentários de pessoas adultas, que diziam da sua vontade de dar uma boa surra na criança, pois assim ela aprenderia bons hábitos. Uma delas fazia o seguinte comentário: “quando a mãe não educa o filho, o filho educa a mãe”.
Vi o vídeo e fiquei refletindo sobre os muitos elementos denunciados na dolorosa cena. Ver uma criança com tanta raiva dentro de si é sempre uma experiência triste. Os porquês daquele comportamento não podem ser analisados fora do conhecimento da situação de vida daquela criança. Contudo, é o comportamento adulto que chama atenção.
As pessoas adultas na cena pareciam não saber o que fazer com a criança incontrolável. Por mais que comportamentos desse tipo sejam cada dia mais frequentes, as escolas, as famílias, o conjunto da sociedade tem dificuldade em encontrar formas de lidar com essa situação. Sendo assim, restam duas saídas: ou estes comportamentos viram rotina (pois nada se pode fazer) ou se recomenda que a família eduque a criança e, geralmente, essa educação significa usar de mais violência.
Daí aparecem algumas perguntas: Qual a linha divisória entre ensinar limites, posturas de boa educação e, em situações como essa, escapar de cometer outros tipos de violência contra a criança? Uma boa surra ou palmadas (como sugeriram os comentários no vídeo) seria a forma mais eficaz de ensinar aquela criança a amar, a respeitar, a cuidar do outro e de si?
Diante de comportamentos tão chocantes como esses, muitas questões nos inquietam. Nos perguntamos: onde estamos falhando como família, escola e outros espaços sociais, na tarefa de ensinar valores humanos para essas crianças? Nossos meninos e meninas não são uma reprodução triste e óbvia do modelo de sociedade que construímos para eles e elas?
E vamos mais fundo nas perguntas. No nosso cotidiano, no dia a dia de nossas casas, escolas, redes sociais, temos nos ocupado em ensinar hábitos gentis, empatia, solidariedade, compreensão, paciência e respeito a elas? Nossos comportamentos diários, a forma como tratamos as pessoas e as próprias crianças, como mães, pais, irmãos, professores, tios, vizinhos, amigos, educam as crianças para serem melhores do que somos? Ou seja, não é uma tarefa só da mãe (da mulher), como apareceu em um dos comentários do vídeo! É uma tarefa de todos e todas.
Talvez, essa seja a saída. Vamos aprender ou reaprender bons hábitos, cultivar e viver bons valores, fazer uso da gentileza, tratar as pessoas com respeito, solidariedade e empatia, em todos os lugares e situações. Aprender para ensinar às nossas crianças a serem pessoas melhores, é o que se faz necessário para que a violência, a agressão, a reação, não sejam apontadas como respostas para o comportamento que condenamos.
A verdade é que as crianças reproduzem os comportamentos ruins que viraram comuns em nossa sociedade. Mas, se tudo que eles vivenciam, se constitui repertório da sua educação, podemos oferecer outras possibilidades. Seja em casa, na escola, nos grupos sociais diversos, no conteúdo que se acessa na TV ou na internet, precisamos lembrar do que desejamos deixar como referência para estas crianças. Se seus comportamentos nos assustam, vamos fazer deles espelho para enxergar com clareza qual sociedade estamos oferecendo para elas, para assim, entender que é preciso mudar a sua direção.
* Doutora em Educação e Professora da UNEB - Campus VII.
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