Imagem/Folha Impacto

Por Marcos Paulo*

Para os mais desavisados, a fala de Paulo Guedes culpando os pobres pela alta do preço do arroz parece ser um absurdo. Mas não é. Com essa afirmação, o ministro da Economia demostra ser um sujeito coerente com sua visão neoliberal de economia e sociedade, aprendida durante o tempo em que ele passou estudando em Chicago, junto com outros “Chicago Boys”. Portanto, se é para considerar algo absurdo e desconectado da realidade do povo trabalhador, esse algo é o próprio neoliberalismo.

Certa feita, em um conjunto de palestras realizadas em Buenos Aires no ano de 1959, Ludwig von Mises, economista de cabeceira de Paulo Guedes, assim se referiu à competência do governo em uma economia de mercado: “na economia de mercado, a principal incumbência do governo é proteger o funcionamento harmônico dessa economia contra a fraude ou a violência originadas dentro e fora do país”. O governo tem que intervir o mínimo possível e garantir a “supremacia do consumidor”.

Ampliando seu poder de intervenção e obrigando os homens de negócio “a conduzir suas atividades de maneira diversa da que escolheriam caso tivessem de obedecer apenas aos consumidores”, o governo certamente irá conduzir todo mundo a uma situação de ditadura. Dessa forma, para von Mises, ou defendemos a soberania do consumidor ou contribuímos com a ditadura do Estado.

Em seguida, Mises critica todo tipo de política voltada ao controle de preços, dizendo que “em geral, os governos recorrem ao controle de preços depois de terem inflacionado a oferta de moeda e de a população ter começado a se queixar do descontrole dos preços”. Em outras palavras, com mais dinheiro circulando na economia, há um aumento da demanda por bens e serviço, provocando a natural elevação dos preços.

Apoiando-se nessas teses neoliberais, Guedes relaciona o aumento do preço do quilo do arroz com o pagamento do auxílio emergencial, afirmando que “os mais pobres estão comprando, estão indo no supermercado, estão comprando material de construção. Então, na verdade, isso [o aumento do preço do arroz] é um sinal de que eles estão melhorando a condição de vida”.

Luis Nassif já explicou, de maneira bastante didática, as causas da crise do arroz. Existe uma lei que obriga a criação de estoques regulares e que permite ao Estado regular preços e garantir a segurança alimentar. Mas, apesar de saber das causas da crise e de existir a lei, de nada vai adiantar exigir que o governo faça alguma coisa para segurar o preço do arroz. E ele já avisou que não irá. O que importa mesmo é mostrar para a população como a política neoliberal é contra o povo, provoca desigualdades e injustiças e que por isso precisa ser superada. Guedes é só mais um vassalo dessa política.

* Professor de História.