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Diversos e Livres

Por Ivânia Freitas*

Professores são arquitetos de sonhos, aqueles que saem por aí planejando e construindo pontes que unem o agora e o amanhã. Como arquitetos das coisas que virão, dos sonhos que ainda não nasceram, das mentes que estão em processo de abertura para o anúncio novo, usamos como instrumento principal a palavra, e ela sempre vem mediada pelo olhar, pelo tom suave ou forte das vozes que ecoam através das paredes das salas, seguidas de gestos leves ou firmes que se entrelaçam às almas e disparam sentidos.

Professor é, também, engenheiro de encontros e também dos desencontros, dos confrontos, das perguntas que nunca se encerram. Nas estruturas das casas que erguemos, as portas nunca estão fechadas e pela janela é sempre possível ver o sol.

Se há labirintos, nós achamos as saídas. Acho que somos especialistas em desvendar labirintos e fazermos de cada ponto de chegada, um ponto de partida para o novo. Talvez, por sermos arquitetos que atravessam tempos, por sermos engenheiros semeadores de horizontes e construirmos pontes tão largas, causamos espantos e incômodos nas estruturas rígidas.

Nestes tempos duros que estamos vivendo, tempos em que se elogia a ignorância e as mentes parecem encolher, venho aqui dizer que temos como instrumento de trabalho o conhecimento que, de tão indagador, é profundamente libertador!

Em tempos em que se colocam sobre nós armas fictícias ou reais para silenciar as nossas ideias e sonhos, nós fazemos dos livros o nosso escudo e seguimos firmes no front da batalha. A nossa guerra é pela liberdade, pela justiça e pela igualdade e nós havemos de vencê-la, um dia...

Em tempos de apologia ao absurdo e naturalização da barbárie, em tempos em que as pessoas não se importam com as outras, nós professores e professoras levantamos a bandeira da solidariedade e inventamos uma forma de estarmos juntos com os que precisam de nossa ajuda!

Em tempos em que se padronizam mentes e sonhos, nós cultivamos a criatividade indagadora afirmando que o mundo é maior do que aquilo que nossa vista alcança e tudo sempre pode ser alterado!

Em tempos em que querem nos convencer de que não há saídas, nós, especialistas em labirintos e pontes, apontamos que existem sim, saídas e fazemos isso semeando a palavra que esclarece, questionando o inquestionável, reelaborando sentidos, apontando dezenas de caminhos que podem ser construídos!

Agora, quando o mundo parece querer andar para trás, quando tentam fazer da história uma narrativa e da ciência uma invenção sem sentido, nós levantamos em coro, buscamos na canção a inspiração e gritamos de mãos dadas: “vamos precisar de todo mundo para banir do mundo a opressão, para construir a vida nova, vamos precisar de muito amor” e coragem, muita coragem!

É com essas palavras, que mais parecem uma convocação para a batalha, que digo, sem medo de errar, que é apenas para isto que servem os professores e professoras, para ensinar a cultivar a esperança.

Como arquitetos e engenheiros que somos, as pontes que construímos não estão nas estradas nem nas avenidas, mas as deixamos em seus corações e mentes. O nosso desejo é que vocês usem dessa ponte para dar mais brilho à vida, para seguirem caminhando e, quando se cansarem, descansem e voltem a caminhar firmes, sempre em frente. 

Mas, se no meio do caminho surgir uma pedra, uma montanha que pareça intransponível, lembrem-se: recorram aos livros, os gigantes do saber, eles vão ajudar a derrubar as barreiras e, quando desfazê-las não for possível, suas páginas sempre apontarão a direção do amanhã.

Professores e professoras, para quê?

Para ensinar a caminhar sobre estradas, pontes e sonhos e seguir em direção ao futuro.



* Doutora em Educação e Professora da UNEB - Campus VII.