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Diversos e Livres
Por Ivânia Freitas*
Sob pena
de não vivermos uma vida vã, cuidemos uns dos outros. Não temos tempo para nós,
não temos tempo para os que amamos, não temos tempo. Vivemos correndo atrás da
vida, literalmente atrás. E, por ficarmos atrás, vamos perdendo pessoas,
memórias, momentos. Qual o sentido de viver, se não podemos usufruir da
companhia dos que nos fazem bem?
De tanto
correr atrás do que nos convencemos ser indispensável, quase nunca reservamos
tempo para partilhar amor, para sorrir até a barriga doer, para aquele bom papo
que nos deixa de alma leve e nos faz querer viver até os cem anos! Sempre que
estou exausta das tantas tarefas diárias, essas indagações martelam em minha
cabeça e todas as vezes me assusto com a obviedade da resposta. Penso que
estamos gastando tempo demais em coisas que são inúteis à felicidade
verdadeira. Acabo constatando que, ao contrário do que pensamos, a tão almejada
felicidade não está na chegada, mas no jeito que levamos a vida, em cada passo
que damos e com quem damos.
Na
corrida por nos sentirmos importantes, levados pelas ilusões de que valemos o
que temos e não o que somos, vamos virando pessoas egocêntricas, frias,
indiferentes com tudo (e todos) que não servem aos nossos interesses, às nossas
necessidades, aos nossos anseios. Ao mesmo tempo, somos carentes de atenção, de
afago, de compaixão, solidariedade e de carinho, mas só queremos receber, não
temos tempo para dar e, se não damos, as chances de receber são cada vez
menores.
Ao estilo
selfie (onde só olhamos para nós mesmos), abrimos mão das amizades, desfazemos
relações sem pestanejar, “pegamos” e descartamos pessoas como se elas fossem
coisas que vão perdendo o valor à medida que as usamos e saciamos a nossa
vontade, os nossos desejos, as nossas intenções. Parece que viramos
consumidores de pessoas em uma rede de relações fast-food onde tudo é rápido,
sem demora, sem vínculo e artificial. Enquanto isso, a vida vai passando (na
nossa frente, em passos largos) e nós seguimos atrás, colecionando laços
partidos que não somos mais capazes de emendar; buscando pessoas que se foram e
não vão mais voltar; saudosos de momentos que esquecemos de aproveitar e
ansiosos por algo que nem sabemos explicar.
Por essa razão, para mim e para você, antes que seja tarde, é bom que tomemos a decisão de dar uma pausa e colocarmo-nos adiante da vida, colocando-a sob nosso comando, escolhendo o caminho pelo qual desejamos trilhar e que seja, de preferência, apreciando a paisagem, parando para um café no fim da tarde enquanto saúda o deitar-se do sol e agradece pelo dia.
É bom pausar, mas não ficar parado, a ideia é seguir adiante recompondo as energias no sabor do beijo demorado na pessoa amada, na companhia dos filhos, dos pais, dos irmãos, no afago dos bons amigos ou, simplesmente, apreciando a luz do luar em boa companhia. Há tanto o que fazer e, mais ainda, há muito o que sentir! O tempo é hoje, o amanhã jamais chegará. Mas, uma coisa é fato, não temos todo o tempo do mundo, “temos nosso próprio tempo” e ele tem hora para acabar. E, os que são importantes para nós, também têm o seu tempo e, se nós não somos para sempre, elas também não! Como disse lá no comecinho dessa prosa, sob pena de não vivermos uma vida vã, cuidemos uns dos outros, afinal, “as melhores coisas da vida não são coisas”.
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