Imagem/Getty Images

Diversos e Livres

Por Ivânia Freitas*

As redes sociais assumiram o lugar da praça pública onde as pessoas se reuniam para conversar sobre todas as coisas, para se exibirem, conquistarem amores e manifestarem livremente seu pensamento. Contudo, diferentemente da praça, as redes sociais alcançam um número de pessoas impossível de controlar e com uma velocidade que jamais imaginamos ser possível.

Dentre os elementos mais importantes das redes sociais está a imagem. Tudo nas redes se vincula à imagem e ela tanto revela quanto esconde a realidade como de fato ela é. Depois das redes sociais, a imagem passou a ser hipervalorizada, as selfies revelaram o quanto as pessoas sentiam ou passaram a sentir vontade de aparecer, de se mostrar ao mundo, ainda que muitas vezes isso ocorra tornando público o conteúdo de sua vida mais íntima, sem que se deem conta da dimensão dos efeitos dessa hiperexposição de si.

Na imagem que circula em grande quantidade nas redes sociais, se vê desde a fantasia que as pessoas criam em torno de uma vida ideal, até a exposição das suas faces mais cruéis ou mais belas, as quais, muitas vezes, ficavam escondidas até de seus círculos mais próximos. É um mistura de realidade e fantasia que faz parecer que vivemos em uma grande tela de cinema, onde assumimos personagens que ora são bem diferentes de quem realmente somos, ora são a nossa própria identidade se revelando para nós mesmos e para o mundo, sem que nos déssemos conta.

Eu costumo dizer que as redes sociais são uma espécie de divã onde tudo parece sair do mais profundo lugar de nossas mentes, revelando nosso verdadeiro eu. Seja quando exageramos no filtro da foto ou na maquiagem para ficarmos “perfeitas”; seja quando esbravejamos desabafos cheios de palavras duras que estão mais para facas afiadas ou quando nossas postagens parecem o próprio conto de “Alice no País das Maravilhas”, as redes captam e traduzem nossa imagem ao mundo, como uma lente potente de uma boa câmera!

O fato é que negando ou afirmando a realidade que vivemos, as redes sociais tem efeitos múltiplos em nossas vidas e eles tanto têm aspectos bons como ruins e perigosos. Muitas empresas hoje, antes de contratarem um profissional, fazem uma busca nas redes sociais e analisam se aquele perfil é interessante ou não para a imagem da empresa.

Esse mesmo movimento de “vasculhar” informações sobre as pessoas, também virou algo comum entre estudantes e professores, entre pessoas interessadas em relacionamentos afetivos e, principalmente, entre redes criminosas que vão desde aliciadores, estupradores, traficantes. Para quem posta toda a sua rotina (inclusive viagens) nas redes, marcando e deixando visível o lugar onde está; para quem costuma expor fotos de crianças, adolescentes e mesmo de suas casas, é bom que se atente. Essas informações são prato cheio para bandidos!

Para o mercado, a imagem que deixamos gravada nos nossos perfis das redes sociais é um grande banco de dados que, tanto serve para invadir nossa privacidade com centenas de anúncios, como para controlar, moldar nossos comportamentos, atitudes e gostos. E todo esse movimento atua diretamente na subjetividade, sendo um importante gatilho para muito do que vemos hoje de estados de depressão, ansiedade, insatisfação, frustração, carência. 

Portanto, penso que devemos olhar com mais atenção para como nos relacionamos com as redes sociais, ao que expomos e dispomos de informação nessa grande vitrine onde nós somos o objeto em visibilidade. Como vemos as redes da tela dos nossos computadores ou celulares, nem sempre temos a dimensão do quanto estamos expostos e de como somos influenciados e controlados por essa estrutura sem fronteiras visíveis. Por fim, é bom que a gente se lembre de que na grande mistura das redes, o que vemos ali é apenas a superfície da realidade, a vida real e de viés é muito mais do que as redes mostram e dela ninguém pode escapar!



* Doutora em Educação e Professora da UNEB - Campus VII.