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Imagem: Mehmet Emin Menguarslan / Anadolu Agency |
Diversos e Livres
Por Ivânia Freitas*
O mundo
anda meio louco, invertido. Parece que quase tudo está fora do lugar. Ao menos
eu sinto isso. Não consigo ver como natural o fato mais de 200 mil pessoas
terem perdido suas vidas, de tantos profissionais de saúde colocando-se em
risco para salvar outras vidas, ao tempo que tanta gente insensata trata
números que refletem gente morta como estatísticas insignificantes.
No final
do ano de 2020, a sensação era de que estávamos em um filme de terror com
comédia (macabra). Eu tive essa sensação quando vi tantas notícias de pessoas
famosas ou comuns dando grandes festas como se nada tivesse acontecendo ao seu
redor. Eu me perguntava: elas são egoístas ou desumanas? O que se passa na
cabeça dessas pessoas?
Claro que
devemos ser gratos por estarmos vivos, com saúde; gratos pelas bênçãos
recebidas e pela chance de vivermos mais um ciclo, mas isso não significa
sermos indiferentes ao terror que estamos passando desde que a pandemia nos
tomou de assalto a liberdade de ir e vir e nos colocou de frente com a morte.
Passados
os festejos do ano do terror, 2021 chega com a segunda onda de dores e tristeza
para milhares de pessoas e a verdade mais uma vez se anuncia: ou paramos tudo
ou mais gente irá morrer. Mas o que vemos é o contrário. Os egoístas estão
perambulando por aí, em festas, viagens, shoppings, bares e eventos, como se
apenas a sua felicidade, os seus momentos de grandeza lhes importassem. Se
enfermeiras, médicos, técnicos de saúde vão aflitos para os hospitais todos os
dias, se crianças e jovens não podem usufruir de suas escolas, se idosos vivem
restrições em lares e tantas pessoas estão sem ter como trabalhar para sustentar
suas famílias, nada disso interessa, pois, estas pessoas não enxergam nada para
além de si mesmas.
O Brasil
ganha destaque no mundo, se revela um país que além de ter ignorantes o
suficiente para eleger governantes despreparados para o exercício de suas
funções, mostra que o seu povo não é nada de cordial, solidário ou acolhedor,
como tanto se disseminou em discursos políticos, no cinema e na literatura.
Muito pelo contrário, somos um país terrivelmente individualista, incapaz de
decisões sensatas, mesmo quando se trata de salvar vidas e que tem a vaidade
como um valor. Somos um faz de conta
cuja face verdadeira não é nada bonita!
Bem disse
o grande sociólogo Jessé Souza, somos o país da conformidade. “Há a
naturalização da miséria e do sofrimento alheio”, herança de uma sociedade
fundada na escravidão que nunca discutiu a escravidão, apesar de ela ser a raiz
dessa postura terrivelmente indiferente com o coletivo, com os pares, com as
dores do outro e por isso, não é de estranhar que estejamos em um contexto
político e social de extrema gravidade e a maior parte das pessoas se porte
como se vivesse em outra dimensão planetária!
Mas elas não fazem isso porque não pensam, porque são imbecis (apenas), mas porque pensam apenas em si. Se o outro é espancado até a morte, é melhor filmar do que socorrer. Se matam a vereadora que denunciava crimes, é melhor não se envolver, quem morreu foi ela! Se o presidente da república negligencia a pandemia, não importa se milhares vão morrer, há quem o defenda em nome da religião, da política ou de manutenção do próprio orgulho. Se para acabar com a pandemia é preciso abrir mão de uma parte dos prazeres pessoais, certamente essas pessoas não o farão. Elas vivem para elas, apenas elas e por isso, o caminho de superação da pandemia ainda é longo!
Mas, o que me cabe dizer (com muita indignação) é que os egoístas terão sua cota a pagar. Cedo ou tarde eles terão que prestar contas, disso eu não tenho dúvidas!
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