Saída do cortejo de Iemanjá em direção ao cais de Remanso

Nesta terça-feira (02/02/2021), aconteceu em Remanso a tradicional celebração dos festejos dedicados à Iemanjá. De acordo com Dona Elenita, organizadora histórica da festa, as comemorações deste ano têm um significado ainda mais marcante e especial, porque celebram o vigésimo aniversário da homenagem realizada pelos povos de santo e devotos da orixá na cidade.

Trazido para o Brasil pelos povos de origem iorubá, em fins do século XVIII, o culto de Iemanjá “é a maior festa de um orixá africano fora da África”, ressalta a pesquisadora da data Cristiane Sobrinho. O jornalista e professor Jorge de Jesus Barreto apresenta Iemanjá no livro “Candomblé da Bahia: resistência e identidade de um povo de fé”, afirmando que “Odoiá!” é a saudação dessa divindade das águas, mãe generosa e vaidosa, rainha do mar, sereia, Janaína, senhora dos mistérios das profundezas dos oceanos, dona das pedras e das conchas marinhas, deusa do reino do Aiocá, das locas do mar. As cores de Iemanjá são o azul prateado, brilhoso e quase transparente, que se vê em dia claro de verão nas águas da baía de Todos-os-Santos.

Por conta da pandemia da covid-19, a festa deste ano passou por adaptações; entretanto, a alegria e devoção características dos fiéis eram sensíveis a todos e todas que puderam acompanhar. Com número reduzido de participantes, o cortejo saiu, por volta das 16h30min, em carreata com destino ao cais do município, local da entrega dos presentes nas águas do Rio São Francisco. Antes, a representativa parada na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário para o momento de orações e preces de agradecimento à padroeira de Remanso, um gesto respeitoso que sempre merece destaque, sobretudo em tempos sombrios em que testemunhamos as mais diversas formas de intolerância e racismo (inclusive o religioso).

Diferentemente dos anos anteriores, neste ano de 2021, por conta da pandemia da covid-19, segundo justificativas da paróquia, os fiéis devotos de Iemanjá não adentraram a Igreja, ficando defronte à porta da nave central. Dona Elenita foi recepcionada por um representante da paróquia, que abriu a porta da Igreja para ela entrar. Em seguida, a porta foi fechada e a organizadora do evento ficou um tempo lá dentro. Depois, ela e os demais devotos fizeram suas orações e agradecimentos à Nossa Senhora do Rosário no lado de fora da Igreja.

Dona Elenita chegando na Igreja Matriz

Em Remanso, existe uma tradição de quase quinze anos em que o cortejo de Iemanjá, antes de seguir em direção ao cais, visita a Igreja Matriz para agradecer à Nossa Senhora e ao pároco do município, num gesto de diálogo inter-religioso, tão necessário num mundo que clama por paz e respeito às diferenças. Na mente de uma pessoa retrógada, esse gesto é interpretado como sendo “relativismo religioso”; porém, nos assegura Papa Francisco, “não existe alternativa: ou construímos o futuro juntos, ou não haverá futuro. As religiões, de modo especial, não podem renunciar à urgente tarefa de construir pontes entre os povos e as culturas”. “Nossas tradições religiosas são uma fonte necessária de inspiração para fomentar a cultura do encontro, é fundamental a cooperação inter-religiosa, baseada na promoção de um diálogo sincero e respeitoso”, acrescentou o pontífice.

Devotos de Iemanjá saindo para a oferta dos presentes no cais de Remanso

No cais e sob forte chuva, os devotos saíram numa balsa para depositarem a oferta dos presentes à rainha das águas. 


Texto, fotos e vídeo: Aroeira Comunica.