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Igreja de São Pedro na comunidade de Nova Esperança/Malhadinha fechada após a invasão |
A invasão
à Igreja de São Pedro na comunidade de Nova Esperança/Malhadinha causou muita
dor à comunidade católica do povoado e a razão é bem simples: a devoção ao
santo mantém viva a fé cristã do povo, promovendo sua unidade e fortalecendo
sua caminhada. Além disso, existe uma relação muito estreita entre a história
do povoado e a devoção ao seu santo padroeiro.
O povo
conta sua história
Conversando
com pessoas da comunidade, é possível perceber a profunda tristeza no olhar
delas diante do ocorrido, principalmente por causa da destruição da imagem de
São Pedro. Ela foi uma doação feita por padre José Daniel Potter à comunidade.
Ele era o pároco do município de Remanso na época em que houve a mudança para a
cidade nova, construída devido ao fato de que a cidade antiga foi inundada após
a construção da barragem de Sobradinho. A destruição da imagem é muito triste,
porque ela era o alicerce da Igreja, relatou dona Gertrudes. Dói muito entrar
na igreja e ver o local onde ficava a estátua de São Pedro vazio, completou
dona Vânia, com lágrimas nos olhos.
O que restou da imagem de São Pedro após a destruição
Além de
Pe. José, outra figura muito importante para a organização da comunidade foi a
freira irmã Florença. Quando foi anunciado que os ribeirinhos que viviam às
margens do rio São Francisco precisariam ser deslocados para outros lugares em
decorrência da construção da barragem, Irª Florença ajudou a organizar essas
pessoas, futuras moradoras do povoado de Nova Esperança/Malhadinha. Um dos
passos a ser seguido para a organização foi definir quem seria o padroeiro do
novo povoado. A escolha por São Pedro foi feita em um sorteio, antes mesmo da
mudança dos moradores, no final da década de 1970.
Os
primeiros habitantes de Nova Esperança eram oriundos de várias localidades
situadas às margens do Velho Chico, a exemplo de Melancia Grande, Goiabeira,
Malhadinha, Mangue, Caroá, Ferreira, Macambirinha e Bento Piro. Muitas delas
possuíam seus padroeiros e realizavam festejos para homenageá-los. O sorteio
foi feito com o nome desses santos de devoção. São Pedro foi o sorteado e a
comunidade concordou. Interessante observar que em Nova Esperança existem
muitos pescadores e pescadoras e São Pedro é, na tradição católica, o padroeiro
desses trabalhadores. Formou, portanto, uma unidade em torno da devoção ao
santo, cuja novena e festa acontecem todos os anos entre os dias 21 e 29 de
junho.
O rapaz
destruiu justamente a imagem, de pouco mais de quarenta anos, que percorre as
ruas do povoado no dia da festa. Segundo relatos de moradores do povoado, o
homem morava em São Paulo e desde novembro do ano passado mudou-se para a
Malhadinha, morando inicialmente com uma tia; porém, por causa da dependência
química e do alcoolismo, passou a viver sozinho em uma casa alugada. Aparenta
ter 27 anos, é calado, interage pouco com as pessoas e é muito observador.
Interior da Igreja na comunidade de Nova Esperança/Malhadinha após o fato
Outros
dois elementos que facilitaram a organização do povoado de Nova Esperança foram
o curso de corte e costura, que acontecia dentro da Igreja, construída pela
Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), e a Casa de Farinha, montada
com o esforço dos moradores, que doavam recursos materiais e dedicavam tempo e
serviço para que a fábrica funcionasse.
Adolfo
Alves Ferreira, considerado o fundador do povoado, é outro personagem histórico
para a comunidade. Quem conta essa história é seu neto Pedro Ivo. De acordo com
ele, Adolfo Alves, já falecido, não queria deixar a região. A ideia inicial da
Chesf era deslocar as famílias ribeirinhas para a agrovila localizada na cidade
baiana de Bom Jesus. Assim, seu Adolfo pediu a Dr. Paulo, engenheiro da
companhia, um lote de terra para que ele e sua família continuassem vivendo na
região. O representante da Chesf lançou então um desafio: seu Adolfo deveria
convencer mais trinta famílias a também ficarem. Dias depois, o agricultor leva
a lista das trinta famílias para Dr. Paulo. Esse dobra o desafio e diz que
teria que ser pelo menos setenta famílias. Pois bem, seu Adolfo consegue
setenta e seis famílias dispostas a permanecerem na região. Vencido o desafio,
seria preciso estabelecer um lugar para abrigar as famílias.
O povoado
de Nova Esperança/Malhadinha foi construído em terras que antes pertenciam a
Mariazinha Castelo Branco, todas elas devidamente indenizadas. Ainda segundo
Pedro Ivo, houve uma espécie de “reforma agrária”, pois cada família recebeu
dois lotes: um urbano e outro rural. Por ter reunido diferentes comunidades,
achou-se por bem criar um novo nome para o povoado; daí Nova Esperança daqueles
e daquelas que tiveram que se mudar. E assim ficou resolvido.
Atualizando as últimas informações
No sábado, 13/02/2021, dia da invasão à Igreja, o investigado foi detido pela polícia para investigação e, em seguida, liberado. Foi aberto procedimento investigatório na delegacia local, em que já foram ouvidas testemunhas do fato e apura-se a possibilidade do acusado ser acometido de algum transtorno mental. Conforme apurado por nossa equipe, familiares informam que o rapaz passou por acompanhamento psicológico em São Paulo. A natureza da investigação depende do resultado da averiguação acerca da sanidade mental do rapaz.
Texto: Aroeira Comunica.
Imagens feitas por moradores da comunidade.
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