Imagem/Pragmatismo Político

Diversos e Livres

Por Ivânia Freitas*

Há quem se iluda de que o discurso do presidente a favor da reabertura das atividades seja em defesa dos trabalhadores. Não, ele é egoísta demais para pensar nos outros, Bolsonaro só pensa em si mesmo e no que lhe fortalece.

Sem postura ética e competência para exercer qualquer que seja o cargo público, ele segue seus dias na presidência espalhando ódio e dor ao guiar a máquina sem freio que tem levado quase 400 mil brasileiros à cova. Ainda que assustador, esse número não representa nada para o presidente que, desde que a pandemia teve início, deixou claro que não faria esforço de nenhuma natureza para combatê-la e, quando pessoas começaram a perder seus familiares, ele disse que não fazia milagres!

Desde sempre, ele desdenhou do poder letal do vírus e segue ignorando todos os protocolos de segurança internacionalmente determinados, numa espécie de prazer macabro de se colocar contra tudo que pode salvar vidas. Demitiu ministros e técnicos que defenderam a ciência, dificultou ao máximo a liberação de recursos para o combate ao vírus nos estados e municípios e não cansa de arranjar formas de atrapalhar prefeitos e governadores que não aderiram ao seu manual mortal da cloroquina e da economia acima de tudo.

Ainda assim, em número cada vez menor, há os que se dispõem a seguir sua lógica do mal e foram para as ruas em carreatas (em meio a ascensão do número de mortes), exigindo abertura de comércio e de escolas, porque acima da vida está o Deus do dinheiro, da ganância e da crueldade. Incapazes de enxergarem um palmo diante do nariz, seguidores do falso messias tentam ludibriar as pessoas com o discurso de que estão defendendo o trabalho, o trabalhador ou mesmo a liberdade de ir e vir.

Enquanto distorce o sentido dos artigos constitucionais, o mesmo Bolsonaro que se diz defensor do trabalho, do trabalhador e da vida, segue com uma política econômica macabra que tem elevado a inflação e que tem efeito drástico e direto na vida da população. Destaca-se nesse plano, a alta dos preços dos alimentos em pleno contexto de pandemia, onde milhares de família tiveram sua renda reduzida ou perderam seus empregos, ficando expostos às situações de exposição à fome e outras formas de violência.

Quando o Brasil acumula 15 milhões de pessoas desempregadas, vale lembrar a frase “tem que vender essa porra logo”, dita pelo Paulo Guedes sobre o Banco do Brasil naquela reunião de ministros (que mais pareceu um encontro da máfia) em abril de 2020. O plano dele segue seu curso com o fechamento de várias agências, sinalizando um alto número de funcionários que perderão seus empregos e aumentarão ainda mais as estatísticas.

Apenas para ajudar a reativar a memória, foi no governo Bolsonaro que vários direitos dos trabalhadores foram retirados em diversas reformas e alterações constitucionais e na legislação, a exemplo da reforma da previdência que aumentou idade mínima da aposentadoria e o tempo de contribuição com o INSS. Nela, para se aposentar com o salário integral e não apenas 60% da média, o trabalhador deverá contribuir por 40 anos, no caso dos homens e 35 anos, no caso das mulheres.

Como uma das demonstrações claras de defesa do bem-estar dos empresários e não dos trabalhadores, a Medida Provisória (MP) nº 881/219, proposta por Bolsonaro, propunha retirar sábados e domingos como dias de descanso dos trabalhadores sem pagamento de horas extras e o fim do adicional de periculosidade para motoboys (que reconhece essa atividade como de risco e assegura pagamento adicional de 30%). Essa parte do texto não foi aprovada devido à alta pressão dos sindicatos. Mas na MP de Bolsonaro, sob a justificativa de assegurar maior “autonomia e flexibilidade”, passaram propostas como o “ponto de exceção” que abre ampla possibilidade de patrões explorarem os trabalhadores e sonegarem o pagamento de suas reais horas de trabalho; mudanças nas normas relacionadas à saúde e à segurança no trabalho que colocam em risco os trabalhadores e trabalhadoras e ainda tem um item que dificultou, ainda mais, o pagamento de indenizações a trabalhadores e trabalhadoras, em caso de falência das empresas.

Quando o presidente evoca artigos constitucionais para encobrir seu sonho de ditador e usa os direitos cidadãos e dos trabalhadores como recurso, é bom que se tragam os dados reais que o tempo e o excesso de informações apagam da memória, para serem confrontados e ajudarem na elucidação dos fatos. Por falar em direitos, Bolsonaro demorou a provar o auxílio emergencial na pandemia. A proposta inicial de seu ministro da economia era de R$ 200,00 na primeira etapa. R$ 600,00 era muito, alegou o presidente, que nesta etapa de 2021, deixou o mísero auxílio entre R$ 170 e máximo de R$ 375,00.

Esse mesmo presidente que considera alto demais um valor de R$ 600,00 para uma família se manter durante um mês, gastou durante suas férias gozadas no Guarujá (SP) e em São Francisco do Sul (SC), de 18 de dezembro de 2020 a 5 de janeiro de 2021 (dezessete dias e durante a pandemia), R$, 2,4 milhões. Destes, R$ 1,2 milhão foram pagos com o cartão corporativo do governo federal (sabe-se lá com o quê, uma vez que não é permitido divulgar com que esse valor foi gasto!), R$ 1,05 milhão com combustível e manutenção de aeronaves (no plural), e R$ 202 mil com diárias da equipe de segurança presidencial. Já pensou quantas famílias se alimentariam por meses com esses valores? Dá para imaginar quantas cestas básicas poderiam ser adquiridas para alimentar milhares de pessoas que passam fome e pedem esmolam pelas ruas?

E se juntar essa boa vida do presidente com os R$ 1,8 bilhão que os órgãos do executivo do governo federal gastaram com alimentos em 2020, deste montante, R$ 21,4 milhões gastos em iogurte natural e outros R$ 15,5 milhões em leite condensado. Nos alimentos dos privilegiados “servidores do presidente”, estão os “indispensáveis” chicletes, sorvetes, massa de pastel, leite condensado, geleia de mocotó, picolé, pão de queijo, pizza, vinho, bombom, chantilly! Dá para calcular quantas famílias teriam alimento em suas mesas (feijão, arroz, carne, ovo, sardinha, café, pão) pelo resto do ano de 2021 com esse bilhão?

Absurdamente (des)preocupado com a vida dos trabalhadores, o governo, que gasta tanto em férias e leite condensado, cortou recursos do orçamento de 2021 do seguro-desemprego de áreas estratégicas como educação, ciência e tecnologia e saúde! Desse modo, sempre que Bolsonaro em seu discurso sorrateiro se utilizar dos direitos constitucionais e falar dos trabalhadores, lembre-se bem desses dados para saber a quem, de fato, ele protege. Lembremos que a campanha milionária que elegeu Bolsonaro foi financiada por um conjunto de empresários que, certamente, querem retorno do seu investimento.

Reformas, retiradas de direitos, cortes nos recursos públicos em áreas centrais, aumento do preço dos alimentos, combustível e ameaças à democracia fazem parte do pacote dos requisitos dos apoiadores do presidente. No pacote dos financiadores desse projeto, a liberação de armas serve a propósitos nada difíceis de compreender no contexto das constantes ameaças de Bolsonaro à democracia. Mas, uma coisa é certa, a estes setores #EleNão decepcionará!



* Doutora em Educação e Professora da UNEB - Campus VII.