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Imagem/Pixabay |
Diversos e Livres
Por Ivânia Freitas*
A
conversa de hoje é uma provocação a partir de uma crônica escrita pelo
Professor Dr. Átila de Menezes Lima da UNIVASF, Campus Senhor do Bonfim.
Depois
que a pandemia da COVID-19 refez o curso da nossa vida, temos experimentado
situações cotidianas que nos colocaram em estado de asfixia. Vivemos cansados,
confusos e insatisfeitos com quase tudo. A incerteza de até quando essa
situação irá durar tem gerado uma sobrecarga mental maior do que podemos
suportar. Junta-se a isso o excesso de trabalho remoto que nos colocou 24 horas
diante de telas, cujos efeitos, principalmente na saúde, serão o maior legado
dessa superexposição.
O
trabalho remoto transformou nossas rotinas ampliando o processo e as formas de
exploração dos trabalhadores que agora arcam sozinhos com a responsabilidade de
desenvolverem suas tarefas de dentro de suas casas que viraram locais
permanente de trabalho. Toda essa invasão no cotidiano tem efeitos imediatos
como o descontentamento com as atividades desenvolvidas, o que vai implicar
diretamente na sua qualidade.
Isso
ocorre não por conta da falta de comprometimento de cada um com seu trabalho,
mas por conta das condições sob as quais esse trabalho se desenvolve. Dentro de
nossas casas, as atividades são ininterruptas, uma vez que, no contexto
pandêmico, todas as tarefas estão concentradas em nós mesmos, gerando um quantitativo
grande de atribuições.
Quando
tudo isso se soma às atribuições profissionais que se misturam nesse complexo
universo da casa e se junta a todos que nela habitam, os efeitos são inúmeros.
O maior deles é a ausência de um ambiente favorável ao necessário descanso. Não
podemos esquecer que já estamos com mais de um ano de pandemia e a maior parte
de nós, ao menos, tem buscado seguir as recomendações dos organismos de saúde
internacionais de ficar em casa, quando possível.
Desse
modo, sem termos condições de estar em outros ambientes que ajudem na quebra da
tão exaustiva rotina, a casa, que sempre foi o lugar para onde voltávamos do
trabalho em busca de sossego e descanso, virou símbolo de exaustão. Na crônica
denúncia do Professor Átila, podemos ver a descrição exata desse cenário na
vida de um professor que, sem dúvidas, reflete o nosso cotidiano.
Os dias
se tornaram “remotos”...
São dias
estranhos e esvaziantes...
Vivo
constantemente angustiado...
Com uma
ânsia enorme de morte-vida...
Sufocado
existencialmente...
“Minha
moradia” já não é mais prazerosa...
Ela já
não é lugar de descanso, realização e lazer...
Já não
tenho mais intimidade em “minha própria casa”...
Ela se
tornou ambiente de negação e não-realização da vida...
A
dimensão do trabalho alienado ocupou todos os espaços...
Já não
tenho mais descanso aos sábados, domingos e feriados...
Existe
uma aceleração brutal das atividades que não consigo “ver o tempo passar”...
Sinto-me
sufocado, sem liberdade em meu “próprio lar”...
Aulas
síncronas, assíncronas, reuniões administrativas, “lives”, eventos, grupos de
estudos, demandas administrativas, e-mails, etc...
Por todas
as partes da casa tem demanda laboral ou algo que lembre...
E a
questão vai bem além de uma boa organização do meu dia a dia...
Vidas
on-line, hiperatividade, captura das subjetividades, quadros depressivos...
Os
algoritmos controlam meu cotidiano e o de milhões de seres humanos...
O
“controle remoto” de nossas vidas aumenta assustadoramente, controle de nossa
subjetividade para aumento da produtividade, tudo se “transforma em capital”...
Da
subsunção formal a subsunção real, o capitalismo vem conseguindo a
subsunção-subordinação total de nossas vidas à lógica do capital...
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