Diversos e Livres

Por Ivânia Freitas*


Se no réveillon de 2019, aquele que abria o ano de 2020, você soubesse que os dois 

anos seguintes seriam assim, de perdas, afastamentos e tantas angústias?

Se você soubesse que teria que se isolar dos amigos,

Que abraços seriam proibidos,

Que planos seriam adiados...

O que você teria desejado naquela virada de ano?

 

Se você soubesse que nos dois anos seguintes

O mundo pararia aflito diante de um gigante invisível e mortal

Que pais perderiam filhos,

Filhos perderiam pais,

Irmãos se separariam para sempre...

O que você teria feito bem antes de tudo isso?

 

Teria “amado mais”, confraternizado mais, teria dado mais gargalhadas?

Teria sido melhor amigo, irmão, filho, pai, amante?

Teria feito aquela visita tão prometida?

Adiaria aquele beijo desejado?

Teria prolongado o abraço?

Teria dedicado mais tempo para uma conversa alegre entre amigos e familiares?

 

O que você teria feito se soubesse que aquela pessoa não estaria mais aqui, assim, tão 

de repente?

Teria pedido desculpas, perdoado, teria sido mais compreensivo?

O que você gostaria de ter dito aos que se foram,

O que você pode dizer aos que perderam pessoas amadas,

Aos que adoeceram de solidão?

 

E se você soubesse que seria você a não estar aqui amanhã,

O que você faria,

O que mudaria,

O que diria?

O que você deixaria como lembrança aos que ficarão sem você?

 

Não há certeza de quando isso vai passar

Não sabemos se estaremos aqui quando tudo “acabar”.

Não sabemos quando poderemos e SE poderemos trocar abraços desejados com os que 

tanto amamos, eles poderão não estar mais aqui ou nós já poderemos ter ido.

Mas, enquanto estamos e eles e elas estão,

O que ainda podemos fazer?

Se não dá para ser abraço de corpo, é possível que seja de alma?

Se não podemos nos encontrar em festejos presenciais, podemos nos alegrar em 

solidariedade?

Como é possível aproveitar o que ainda há e quem ainda temos?

 

E se isso ainda durar muito tempo

E se acabar em breve,

O que faremos,

Como seremos,

O que mudaremos?




* Doutora em Educação e Professora da UNEB - Campus VII.