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Esta semana a consumação do golpe travestido de impeachment que destituiu a presidenta legitimamente eleita, Dilma Rousseff, comemora cinco anos. Analisando a natureza desse acontecimento, afirmou ela: “o projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo econômico e do retrocesso social”. Diagnóstico e prognóstico cristalinos. De lá para cá, essas previsões só se confirmaram, desembocando no atual cenário em que o Brasil é governado por uma aliança antipopular, que poderíamos chamar de reação reacionária. Para quem se interessa no aprofundamento da análise desse momento da história recente brasileira, a Aroeira indica a leitura da obra de Jessé Souza, “A radiografia do golpe: como e por que você foi enganado”. No livro, o autor considera que as Jornadas de 2013 foram o ovo da serpente para a construção da “base popular” que viabilizou o golpe. Para ele, “existe uma linha clara de continuidade entre as glorificadas e midiaticamente manipuladas manifestações de junho de 2013, as assim chamadas ‘jornadas de junho’, e o golpe de abril 2016”.

Os eventos de 2013 foram, inicialmente, capitaneados pelo Movimento Passe Livre (MPL), contando com a participação de jovens da classe média e periférica das grandes cidades, sobretudo São Paulo. Reivindicavam pautas localizadas, justas e legítimas, protestando contra o aumento das taxas e em favor do direito ao transporte coletivo, assim como por empregos de melhor qualidade. Acontece que, em poucos dias, a configuração das manifestações mudou: “perdia seu sentido popular e reivindicativo e se tornava uma ‘festa popular’ contra a corrupção e a ladroagem na política” (SOUZA, 2016, p. 93). Além da mudança de bandeira, mudou também o perfil dos manifestantes: agora famílias da classe média de renda alta, vestidas com a camiseta da seleção brasileira, empenhadas em “fulanizar” a corrupção, ao responsabilizar os governos petistas e suas principais lideranças pela banalização e sistematização dos males feitos ao país. As investigações conduzidas pela força-tarefa da Lava Jato, diuturnamente mostradas pela grande mídia comercial, forneceu o lastro jurídico, que legitimou e fortaleceu esse discurso de combate a corrupção. Além de identificar o “inimigo”, essas manifestações criminalizavam a política e os partidos, criando a “base popular” que viabilizou a ascensão da extrema-direita. Apesar da vitória de Dilma Rousseff nas eleições de 2014, o “cidadão de bem”, moralmente íntegro e conservador nos costumes, continuou, nos anos seguintes, saindo às ruas, agora exigindo o impeachment. O ódio e o ressentimento de classes ficaram escancarados. Daí até o impedimento, concluído em agosto de 2016, foi um pulo. Assume o vice-presidente, Michel Temer, prometendo implementar a agenda neoliberal de reformas como a única saída para tirar o Brasil da crise econômica. As manifestações cessaram, os noticiários sobre corrupção continuaram, algumas reformas foram aprovadas e a situação do país, desde então, só piorou. A principal liderança do campo popular, Luiz Inácio Lula da Silva, foi presa no âmbito da operação Lava Jato, condenado em 1ª e 2ª instâncias em tempo recorde e impedido de concorrer às eleições de 2018. Ele era o franco favorito. Resultado: Bolsonaro venceu o pleito eleitoral, concluindo o processo de chegada ao governo do Brasil da reação reacionária, uma articulação antipopular que reúne ideias e pautas conservadoras, neoliberais e de extrema-direita. Fica a dica!