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A ascensão de grupos de extrema-direita em vários países do mundo, a exemplo do Brasil com a eleição de Bolsonaro, exige uma reação urgente daquelas pessoas comprometidas com os valores da democracia, respeitando as especificidades de cada nação em conduzir seus destinos. Essa reação precisa, porém, está apoiada em um programa capaz de atender às demandas do povo injustiçado. A urgência desse programa e sua divulgação é uma estratégia importante na medida em que as lideranças de extrema-direita, quer queria, quer não, possuem uma “base popular” bastante consolidada (no Brasil, as pesquisas têm mostrado que a candidatura de Bolsonaro tem o apoio de pelo menos 20% os eleitores). Ou seja, as promessas e as saídas fornecidas por esses líderes capturam corações e mentes.

Nessa perspectiva, um programa de esquerda que pretende atender às várias demandas do povo injustiçado precisa articular políticas de reconhecimento com redistribuição. Não é uma tarefa das mais fáceis já que, como destaca Nancy Fraser, “nestes conflitos ‘pós-socialistas’, a identidade de grupo suplanta o interesse de classe como o meio principal da mobilização política. A dominação cultural suplanta a exploração como a injustiça fundamental. E o reconhecimento cultural toma o lugar da redistribuição socioeconômica como remédio para a injustiça e objetivo da luta política”.

Parecem que são duas lutas antípodas, pois, enquanto a luta por reconhecimento tende a positivar as especificidades de cada grupo desprezado, afirmando seu valor, a luta por redistribuição quer abolir as estruturas socioeconômicas que embasam as especificidades. A primeira seria uma luta simbólico-cultural identitária; a segunda uma luta social por igualdade. Fraser, no entanto, destaca que existem “coletividades bivalentes” que sofrem injustiças tanto cultural, quanto econômica (os paradigmas aqui são o gênero e a raça); portanto, a superação dessas injustiças só ocorrerá com o uso de remédios redistributivos e de reconhecimento. Inclusive, para ela, “a justiça hoje exige tanto redistribuição como reconhecimento”. Assim, um questionamento que ajuda no processo de elaboração de um projeto de esquerda para o século 21 seria: “como conceituar reconhecimento cultural e igualdade social de forma a que sustentem um ao outro, ao invés de se aniquilarem?”

Para acompanhar esse debate, a dica da Aroeira sugere a leitura do texto de Nancy Fraser “Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça numa era ‘pós-socialista’”. Fica a dica!