Foto: EVARISTO SA/AFP

Diversos e Livres

Por Ivânia Freitas*

Bolsonaro disse que chora sozinho no banheiro da sua casa pelo receio de que alguma decisão “mal tomada” possa fazer muita gente sofrer. Certamente, uma das razões do “choro”, é por sua imensa capacidade de enganar a tantas pessoas de uma só vez e nada lhe acontecer.

Deve ser uma grande emoção para alguém que na carreira política como deputado não conseguiu apresentar um único projeto relevante, tenha chegado ao cargo de presidente da república. Ele deve se beliscar para crer na vida que leva hoje, uma vez que não precisou estudar sobre nada, se elegeu sem apresentar propostas concretas, fugiu dos debates inventando um atentando contra sua vida, não sabia e nem precisou discorrer sobre nenhum tema da agenda brasileira. Foi eleito disseminando o que ele tem de pior - o ódio, o preconceito, o negacionismo, o incentivo à violência, sendo aportado, sobretudo, pela verborreia do discurso evangélico oportunista que defende Deus e o diabo com a mesma ênfase! Realmente é para “chorar”! Uma única pessoa é capaz de reunir tantas “qualidades”  infames e, ainda assim, ter chegado lá!

Outro motivo para seu “choro” é, sem dúvidas, a felicidade de, mesmo diante de uma gestão decadente e de ter levado o Brasil de volta ao mapa da fome, ainda estar no poder.

Bolsonaro tem sobre ele, seus filhos e familiares, suspeitas e processos de corrupção e outros crimes. O assassinato de Marielle Franco e seu motorista Anderson (veja em https://www.brasildefato.com.br/2020/03/14/marielle-bolsonaro-e-a-milicia-os-fatos-que-escancaram-o-submundo-do-presidente), além das ameaças que forçaram o ex-deputado Jean Wyllys à renúncia, são questões que envolvem o clã. Soma-se a isso, as mais de 600 mil pessoas que morreram pela ausência de ações do governo federal no combate ostensivo ao coronavírus, negando-se a comprar vacinas e disseminando o uso de medicamentos cientificamente descartados para tratar o vírus. Bolsonaro acumula quatro inquéritos no STF e TSE: 

● “eventual interferência do presidente na PF;

● suposta prevaricação sobre irregularidades na negociação da vacina Covaxin;

● ataques às urnas eletrônicas;

● vazamento de dados de inquérito sigiloso da PF.” 

(disponível em https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/08/13/entenda-inqueritos-sobre-bolsonaro-no-supremo-e-no-tse.ghtml)

Penso que seu “choro” passa, inclusive, pelos milhões perdidos do golpe das vacinas que passa por uma CPI que tem escancarado o escandaloso esquema de corrupção dentro do seu governo e que, cedo ou tarde, poderá revelar quanto o “clã” bolsonarista esteve envolvido nesse grande esquema.

No entanto, o motivo maior do “choro” de Bolsonaro é mesmo o que se anuncia no horizonte de 2022. Certamente ele “chora” pela possibilidade de não poder mais usufruir da vida de rei que ele e seus familiares têm levado às custas dos nossos impostos e da fome que vivem milhões de brasileiros.

Enquanto vemos se multiplicarem os pedintes nas ruas, o governo Bolsonaro gasta R$ 204 milhões (em nove meses) no cartão corporativo. Um valor 20% maior do que no ano de 2020. O que não podemos esquecer é que toda essa farra com dinheiro público ocorre em meio a uma pandemia que aprofundou a pobreza e levou milhares de pessoas à situação de absoluta miséria!

Segundo o portal IG, o valor registrado até setembro de 2021 só não é maior que o total de 2018 quando Michel Temer gastou R$ 244,8 milhões. Em 2019 esse gasto foi de R$ 198,2 milhões.

Eis aqui o ranking dos gastos do governo (com destaque ao presidente do “choro no banheiro”) nesse ano: (https://economia.ig.com.br/2021-10-12/governo-bolsonaro-cartao-corporativo-gastos.html )

● Presidência da República – R$ 15,2 milhões

● Ministério da Justiça e da Segurança Pública – R$ 11,4 milhões

● Ministério da Economia – R$ 4,3 milhões

● Ministério da Educação – R$ 3 milhões

● Ministério da Defesa – R$ 2,7 milhões

É inacreditável que Bolsonaro tenha gastado R$ 2,37 milhões  durante as férias, entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano   (https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/04/4915558-bolsonaro-gastou-mais-de-rs-2-milhoes-com-ferias-durante-a-pandemia.html). De janeiro a agosto deste ano, “a União já pagou R$ 5,8 milhões com viagens e despesas domésticas da família do presidente, maior gasto desde 2001”, segundo levantamento feito pela Revista Crusoé . “Segundo a  revista: “a conta não inclui outros órgãos do governo, como a Agência Brasileira de Inteligência e o Gabinete de Segurança Institucional, que têm seus próprios cartões corporativos. Estão computados apenas aos gastos da família do presidente em viagens e as despesas domésticas”. (https://www.extraclasse.org.br/politica/2021/08/bolsonaro-bate-recorde-de-gastos-com-seu-cartao-corporativo/).

A preocupação com o Brasil é tão grande que o presidente gastou R$ 476.393,36 em um passeio de moto em São Paulo, o qual custou só ao estado de São Paulo R$ 1,2 milhão. No Rio de Janeiro o custo da brincadeirinha do presidente foi mais de R$ 485 mil. Estima-se que no total, os passeios de campanha antecipada do presidente levaram pelo menos R$ 2,8 milhões dos cofres públicos.

Segundo a Gazeta do Povo “das 15 viagens mais caras feitas pelo presidente Jair Bolsonaro durante o seu governo, incluindo roteiros no exterior, 10 foram de férias ou de folga, com custo médio de R$ 660 mil. Em dois anos e meio de mandato, o presidente já gastou R$ 43 milhões com viagens” (https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/lucio-vaz/bolsonaro-gastou-r-43-milhoes-com-viagens-mostram-novos-dados-do-governo/)

No final de 2020 o “chorador” gastou R$ 1,2 milhão em viagem para o Guarujá e R$ 701 mil no carnaval que passou em São Francisco do Sul (SC). Ainda segundo a Gazeta, “as nove passagens pelo Guarujá custaram R$ 4,3 milhões aos cofres públicos”.

“No feriado de Carnaval de 2020 as despesas do presidente no cartão corporativo chegaram a R$ 630 mil. Nas férias do início daquele ano, foram gastos mais R$ 560 mil. Teve também o feriado de Finados, no início de novembro – mais R$ 540 mil – e o feriado de Nossa Senhora Aparecida – R$ 460 mil. Em todas essas folgas, Bolsonaro costumava fazer passeios de moto pela cidade, acompanhado pelos seus seguranças e policiais militares”, apontou a Gazeta. (https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/lucio-vaz/bolsonaro-gastou-r-43-milhoes-com-viagens-mostram-novos-dados-do-governo/). Enquanto isso, esse mesmo governo que gasta sem medida com férias,  não se envergonha de vetar a distribuição gratuita de absorvente menstrual para estudantes de baixa renda e pessoas em situação de rua ou de vulnerabilidade extrema.

O “choro” de Bolsonaro tem razão. Qual funcionário público tem o privilégio de ter suas férias pagas com o dinheiro do povo? Quem de nós pode fazer churrasco com picanha de R$ 1.799 e ter esse valor pago pelos cofres públicos?

Qual será o destino de tanto dinheiro gasto no cartão corporativo? Infelizmente não é possível acompanhar na íntegra como esse dinheiro é gasto já que as notas fiscais e os detalhes dos gastos ficam em sigilo até o fim do mandato presidencial.

Todos devem lembrar do caso das rachadinhas (que envolve um dos filhos do presidente) onde o dinheiro pago aos assessores voltava para o senador. Será que esse montante de recurso tem destino parecido?

Bem, o fato é que enquanto o tirano diz chorar sozinho no banheiro, milhões desaparecem dos cofres públicos e o destino desse recurso, certamente, passa bem longe das necessidades do povo!



* Doutora em Educação e Professora da UNEB - Campus VII.