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Diversos e Livres

Por Ivânia Freitas*

Quando tudo parece difícil, é que se faz urgente buscar algo que anime a alma para que ela não caia na tentação do medo e da estagnação, que sempre parecem opções mais fáceis. Ficar imóvel diante das situações complexas que a vida nos coloca, em nada ajuda. O desafio que nos é permanentemente colocado é o de seguir adiante com coragem e determinação.

Sei que os dias que temos vivido não são animadores, a sensação é que estamos andando para trás. No entanto, creio que para tudo há um propósito e um tempo de durar. Nada é para sempre e, apesar “dele” e de todas as circunstâncias que nos puxam para baixo, “amanhã há de ser outro dia”. Mas é fato que nada muda se ficarmos parados. Precisamos dar a nossa contribuição para que esses tempos pesados possam ser alterados.

Há várias formas de a gente se mover para frente, individualmente e coletivamente. Há muitas frentes de luta que requerem nossa participação e elas vão desde a militância nos sindicatos, nos movimentos sociais, na atuação em grupos religiosos que levam palavras de fé, nos coletivos de caridade, no carinho e atenção dedicados a um amigo que caiu em tristeza, tudo isso, no seu conjunto, revela que há esperança e bondade em movimento no universo.

Todas as formas de ação em direção à mudança são importantes energias que acionamos em nós e ao nosso redor e elas precisam ser estimuladas todos os dias. Nas diversas frentes a que somos chamados a lutar pelo futuro, a base para toda e qualquer ação é manter viva a chama da esperança, a fé no que virá, no que podemos construir hoje.

Essa atitude de confiança e ação é fundamental para que possamos superar o estágio desalentador que a realidade concreta nos tem levado. Manter acesa a esperança é manter a luz da vida, e é ela que nos faz andar para frente, ainda que nossos pés pareçam pesados e exaustos.

Se no meio da caminhada o cansaço bater (e sempre bate), devemos parar e recompor as forças buscando as pequenas coisas que são capazes de renovar a alma, (um abraço em quem amamos, um encontro com amigos, uma boa música, um passeio, uma boa comida, uma soneca, uma caminhada...) tudo é válido. Se ainda assim, o cansaço insistir, é preciso pedir ajuda, solicitar outras mãos que possam nos ajudar a regar a nossa alegria.

Contudo, meus amigos e amigas, nesses dias de travessia, o mais importante é lembrar que não estamos sozinhos na construção do futuro, há mais gente lutando, mais gente tentando, mais gente se reerguendo para fazer o amanhã ser possível. Não podemos desistir. A história nos mostra que há sempre possibilidades de mudança, e só nós podemos fazê-la. Como diz o poeta Guimarães Rosa:

O correr da vida embrulha tudo,

a vida é assim: esquenta e esfria,

aperta e daí afrouxa,

sossega e depois desinquieta.

O que ela quer da gente é coragem.

O que Deus quer é ver a gente

aprendendo a ser capaz

de ficar alegre a mais,

no meio da alegria,

e inda mais alegre

ainda no meio da tristeza!

A vida inventa!

A gente principia as coisas,

no não saber por que,

e desde aí perde o poder de continuação

porque a vida é mutirão de todos,

por todos remexida e temperada.

O mais importante e bonito, do mundo, é isto:

que as pessoas não estão sempre iguais,

ainda não foram terminadas,

mas que elas vão sempre mudando.

Afinam ou desafinam. Verdade maior.

Viver é muito perigoso; e não é não.

Nem sei explicar estas coisas.

Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor.



* Doutora em Educação e Professora da UNEB - Campus VII.