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Não é possível compreender a formação socioeconômica do Brasil desconsiderando a escravidão, que perdurou em terras tupiniquins por mais de 350 anos. Acontece que a própria compreensão da construção da unidade territorial do país só pode ser explicada considerando o interesse maior da classe dominante brasileira em garantir a permanência da escravidão após a proclamação da independência do Brasil. É a tese apresentada por Jacob Gorender em “Brasil em preto e branco”, a dica de leitura da Aroeira para esta semana.

Segundo ele, “o que, no fundamental, permitiu ao poder central o triunfo sobre tendências fragmentadoras e a manutenção da unidade do território nacional foi a existência de uma classe dominante nacionalmente coordenada pelo interesse comum de defesa da instituição escravista”.

Mais à frente: “a escravidão foi, por conseguinte, o fator decisivo para a manutenção da unidade nacional, na conjuntura da conquista e da consolidação da Independência, em que atuaram fortes tendências centrífugas, as quais, se levadas às últimas consequências, teriam conduzido à secessão e fracionado politicamente o território brasileiro”.

Foi esse interesse que assegurou a existência, nas Américas de nações republicanas, de um único país monárquico com dimensões continentais. Não à toa, lembra Gorender, “a monarquia deixou de existir, sendo eliminada sem grandes comoções, quando não havia mais escravidão a ser assegurada”. A escravidão foi abolida oficialmente em 13 de maio de 1888 e a República foi proclamada em 15 de novembro de 1889. 

Os mais desavisados poderiam ver um legado positivo nesse interesse intransigente da classe dominante em manter a escravidão, que foi justamente a consolidação da unidade territorial. No entanto, é a escravidão, como argumenta Gorender, a raiz das mazelas que assolam a sociedade brasileira: violência, racismo, injustiças, concentração de terras e as desigualdades.

Livro que convida o/a leitor/a a pensar sobre as raízes dos problemas fundamentais que impedem a construção de um Brasil justo, igual e livre. Fica a dica!