Imagem/Combate Racismo Ambiental

As quatro características definidoras do século XIX são: o surgimento das teorias sociais (socialismo, comunismo e anarquismo), o nacionalismo, a consolidação do capitalismo e o imperialismo (neocolonialismo). A história mostra que a hegemonização do capitalismo no mundo foi impulsionada pela política imperialista adotada pelas potências europeias. A articulação entre capitalismo e imperialismo foi causadora de diversos holocaustos pelo mundo todo: dos povos indígenas, asiáticos e africanos. A Ásia e a África foram os dois continentes que mais sofreram com a política imperialista da segunda metade do século XIX promovida pelas potências capitalistas da Europa. 

De fato, o objetivo aqui era a dominação imperial de áreas fornecedoras de mão-de-obra barata, matérias-primas, minérios, receptoras de excedente populacional e lugares para o onde os capitais seriam investidos. Em outras palavras, o objetivo era fundamentalmente econômico. No entanto, havia uma justificativa ideológica que serviu para legitimar toda essa dominação imperial: a missão civilizatória do homem branco europeu, muito bem descrita pela pena do literato inglês Rudyard Kipling, que escreveu: “assumi o fardo do homem branco, /Enviai os melhores dos vossos filhos, /Condenai vossos filhos ao exílio, /para que sejam os servidores de seus cativos”. Dessa forma, para que o desenvolvimento da África e da Ásia ocorresse, seria necessária a presença europeia nesses continentes. E por quê? Porque esses continentes seriam habitados por pessoas racialmente inferiores.

Desde o século XV, com o as Grandes Navegações, os europeus faziam para si o seguinte questionamento: o outro, por ser diferente de mim, é um ser humano tal qual eu sou? Até o século XVII, quem fornecia a resposta para essa pergunta era a Teologia e as Escrituras, que afirmavam que sim, pois toda humanidade é descendente de Adão. A partir do século XVIII, o século das luzes, essas diferenças começam a ser interpretadas mediante critérios raciais. As pessoas são diferentes porque pertenceriam a raças diferentes. A diversidade humana passou a ser classificada em raças diferentes.

Até aqui, ok, pois como lembra o professor Kabengele Munanga “a variabilidade humana é um fato empírico incontestável que, como tal merece uma explicação científica. É neste sentido que o conceito de raça e a classificação da diversidade humana em raças teriam servido”. Acontece que, “infelizmente, desembocaram numa operação de hierarquização que pavimentou o caminho do racialismo”. Ou seja, a raciologia, teoria pseudo científica que ganhou muito espaço no final do século XIX e do início XX, estabelecia “uma escala de valores entre as chamadas raças, erigindo uma relação intrínseca entre o biológico (cor da pele, traços morfológicos) e as qualidades psicológicas, morais, intelectuais e culturais” das pessoas.

Apoiando-se nas teorias desenvolvidas pelo racismo científico, os países colonizadores justificavam a dominação colonial como a única via de modernização da Ásia e da África, porque enquanto o asiático seria alguém naturalmente “amarelo, melancólico, governado pela opinião e pelos preconceitos”, o africano é “negro, flegmático, astucioso, preguiçoso, negligente e governado pela vontade de seus chefes”, necessitando, ambos, do europeu, que é “branco, sanguíneo, musculoso, engenhoso, inventivo e governado pelas leis”.

Por essa época, surgiu também o darwinismo social, cujo objetivo consistia em aplicar a Teoria da Evolução de Darwin à evolução da sociedade. Enquanto as espécies evoluem mediante um processo de seleção natural, a competição capitalista selecionaria os mais aptos. Assim, como a raça branca ocuparia o topo da escala evolutiva, a tendência é que a concorrência, a longo prazo, eliminaria as raças inferiores. A pseudo ciência racista mais o darwinismo social fundamentaria as políticas eugenistas do século XX, nos países nazifascistas, capitalistas e também no Brasil, de purificação da raça. (No caso do Brasil, ver o filme documentário Menino 23, que pode ser visto aqui).

Para o aprofundamento desse assunto, a seção de dicas da Aroeira traz duas indicações para este final de semana: a primeira é o documentário da BBC, “Racismo Científico, Darwinismo Social e Eugenia” e a palestra do professor Kabengele Munanga “Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia”. Ficam as dicas!