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No livro “Por que repetimos os mesmos erros”, o psicanalista J.-D. Nasio fornece uma resposta para algumas indagações que nos provocam, como, por exemplo, “qual a causa que nos impele a escolher sempre um parceiro semelhante, a repetir a maneira de amar e sofrer com o amor, que nos leva a voltar incansavelmente ao mesmo tipo de ligação afetiva?” Por que nos prendemos a certos vícios e a certos hábitos? Por que repetimos comportamentos e reproduzimos as mesmas atitudes? Enfim, por que da nossa compulsão à repetição?

O autor mostra que o inconsciente não se manifesta apenas através de atos falhos, lapsos ou sonhos, mas também por meio das repetições. Nasio define o inconsciente como uma pulsão, ou seja, uma energia psíquica que impele nossos pensamentos, comportamentos, sentimentos e falas. Ora, a pulsão pode favorecer ou não a expansão da vida. No primeiro caso, o inconsciente se associa às pulsões de vida, isto é, as de autopreservação e sexuais; no segundo, às pulsões de morte, que são destrutivas e autodestrutivas.

O objetivo principal da pulsão não é apenas a sua satisfação prazerosa, mas, sobretudo, o retorno a um estado antigo, conturbado, mas não necessariamente traumático. Portanto, afirma Nasio, o que se repete na repetição é o gozo que foi proporcionado por este passado real ou mesmo fantasmático. Ele distingue as repetições sadias das repetições patológicas. As primeiras são benéficas e não compulsivas, pois favorecem a nossa autopreservação, o nosso desenvolvimento pessoal e a consolidação da nossa identidade, já que “repetir nos estrutura, tranquiliza e faz bem”. Já as segundas, traumáticas, atualizam, por meio de um sintoma ou passagem ao ato, um passado traumático e doloroso, que fora foracluído (não representado) e depois recalcado. É um passado traumático porque o sujeito sofreu uma situação, real ou fantasmática, em que foi abusado sexualmente, humilhado ou talvez abandonado, impossibilitado, devido a imaturação de seu eu, de simbolizá-la no momento no qual o evento ocorreu.

Neste livro, J.-D. Nasio trabalha esses temas de maneira brilhante e didática, recorrendo a exemplos clínicos extraídos de seu consultório, enriquecendo-os com citações retiradas das obras de Freud e Lacan. Fica a dica!