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Na
quarta-feira, 26/01, na Audiência Geral, cujo tema foi “São José, homem que
sonha”, o Papa Francisco pediu que os pais não condenem seus filhos gays, mas
que os apoiem (ver aqui e aqui). Certamente que os cristãos mais conservadores
veem nestas palavras do sumo pontífice uma verdadeira afronta à Sã Doutrina e à
Sagrada Tradição. Isso ocorre porque, para eles, amar a Deus e ao próximo
consiste no estrito cumprimento de deveres morais e religiosos. Não compreendem
que o amor salvífico de Deus precede a realização dessas obrigações. Nesse
sentido, afirma Francisco na exortação apostólica “Evangelii Guadium”: “no
anúncio do Evangelho, é necessário que haja uma proporção adequada. Esta
reconhece-se na frequência com que se mencionam alguns temas e nas acentuações
postas na pregação”. Dessa forma, é bastante desproporcional que um padre fale
mais de temperança do que de caridade durante uma homilia. “E o mesmo acontece
quando se fala mais da lei que da graça, mais da Igreja que de Jesus Cristo,
mais do Papa que da Palavra de Deus” (EG, 2015, n. 1, 38).
É por
isso que o Santo Padre diz, numa entrevista, que o confessionário jamais pode
ser transformado numa sala de tortura. Ali, deveria ser sempre um lugar
privilegiado em que a misericórdia do Senhor se manifesta, estimulando as
pessoas a fazerem o melhor de si. Ainda na Evangelli Guadium, Francisco afirma
que a Eucaristia, “embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um
prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos”
(EG, 2015, n.1, 47).
De fato,
como bem coloca o teólogo e padre jesuíta Luís Corrêa Lima, “o papa impulsiona
a Igreja Católica a viver um tempo de renovação pastoral. Ele a convoca a ir às
‘periferias existenciais’, ao encontro dos que sofrem com as diversas formas de
injustiças, conflitos e carências” (LIMA, 2021, p. 108). Ele faz essa afirmação
no livro, recentemente lançado, “Teologia e os LGBT+” (ver aqui). Assim, a
novidade que o papado de Francisco traz diz respeito à abertura pastoral, aos
novos enfoques doutrinais, à promoção de gestos ousados e concretos e ao desencadeamento
de novos processos.
No que se
refere a relação da Igreja com a população LGBT+, Francisco, através de gestos
e palavras, anima a Igreja a não temer as atitudes do respeito, acolhimento e
da integração. São essas atitudes que fizeram o papa se encontrar com um casal
gay, Yayo, ex-aluno e amigo pessoal o líder da Igreja Católica, e Iwan, bem
como a receber em sua casa a visita do transexual espanhol Diego Neria e sua
companheira e a dizer ao chileno Juan Carlos Cruz, vítima de abuso sexual,
crime que foi cometido por um sacerdote: “Juan Carlos, que você é gay não
importa. Deus te fez assim e te ama assim, e eu não me importo. O papa te ama
assim. Você precisa estar feliz como você é” (ver aqui, aqui e aqui).
De acordo
com Luís Corrêa Lima, com todos esses gestos e palavras, “não se pode dizer que
este papa menospreza os documentos doutrinários da Igreja, mas nestas questões
ele se volta para o que é pastoralmente mais importante: a bondade da criação
divina, o amor incondicional de Deus, a acolhida da pessoa e a autonomia de sua
consciência. Estes exemplos [acima] mostram o que é acolher e não julgar, e
valem ainda mais que muitas palavras. Se todos os pais e familiares de LGBT
seguissem o exemplo do papa, recebendo-os em suas casas com seus respectivos
companheiros, vários problemas dessa população seriam resolvidos” (LIMA, 2021,
pp. 113-14, grifos nossos).
Para quem se interessa em aprofundar os estudos da relação da Igreja com a população LGBTQIA+, sua perspectiva histórica e os desafios contemporâneos, a dica da Aroeira sugere a leitura dos artigos do próprio Luís Corrêa Lima e de Maria Cristina S. Furtado, disponibilizados no site “Diversidade Sexual”, espaço virtual que traz os materiais de estudo do Grupo de Pesquisa Diversidade Sexual, Cidadania e Religião da PUC-Rio. Fica a dica!
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