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É visível que nos últimos anos os preços dos alimentos aumentaram de maneira expressiva. O Brasil, que havia saído do Mapa da Fome em 2010, voltou durante o ano de 2020. Segundo dados do estudo "Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil", cerca de 20 milhões de brasileiros passam fome, ou seja, insegurança alimentar grave; falta comida ou essa é inexistente. Ademais, cerca de 116,8 milhões de brasileiros não tinham acesso pleno e permanente a alimentos. Isso significa que apesar de ter comida, não era suficiente ou durável.

A fome é uma realidade que atinge diversas pessoas. Ela foi agravada com a crise econômica, na qual o desemprego aumentou, enquanto a renda da população diminuiu. Esse quadro econômico negativo mais a crise sanitária, causada pela pandemia da Covid-19, resultou no aumento do dobro de favelas no Brasil dos últimos 10 anos.

São várias as causas que podem ser citadas acerca do motivo pelo qual a fome aumentou. Após a eleição do atual presidente do país, houve o fim ou enfraquecimento das políticas de combate à fome; além disso, há uma defasagem na renda do brasileiro, exemplificada no aumento diário do preço do feijão e do arroz, enquanto que o salário, para aqueles que recebem, continua igual.

No livro "Quarto de Despejo: diário de uma favelada", dica da Aroeira de hoje, a autora, Carolina Maria de Jesus, mulher negra, catadora de papel e moradora da favela, escreve todos os dias sobre sua vida na favela do Canindé, em São Paulo. Os relatos são entre os anos de 1955 até 1960.

No livro, Carolina de Jesus apresenta a realidade de uma mulher-mãe-favelada, que cria três filhos, e passa fome. Em seus relatos, descreve como é viver na favela, como é lidar com a fome, como é ver seus filhos pedirem o que comer e você nada ter. Em um trecho do livro, vai dizer Carolina: "na minha opinião os atacadistas de São Paulo estão se divertindo com o povo igual ao Cesar quando torturava os cristãos. Só que que o Cesar da atualidade supera o Cesar do passado. Os outros eram perseguidos pela fé. E nós, pela fome!".

Lançado em 1960 pela editora Francisco Alves, o livro "Quarto de Despejo: Diário de uma favelada" surpreende pela atualidade, pela dor e pela verdade das palavras de uma mulher negra que aprendeu a escrever e na escrita potencializou sua vivência. Todos deveriam ler esse livro, pois, como disse Carolina: "a fome também é professora". Fica a dica!