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Diversos e Livres

Por Ivânia Freitas*

Terminei de jantar e fui fazer a caminhada de rotina na rua com meus dois cachorros Poodle. Me acompanhavam nesse pequeno trajeto noturno, minha filha mais nova e meu filho de dezesseis anos.

Costumeiramente, como é bem dessa raça canina, sempre que passa alguém na rua, eles saem latindo, mas nunca morderam ninguém, nunca se envolveram em brigas com outros cachorros ou avançaram nas pessoas. No máximo um “chega pra lá” e eles recuam já se ocupando de outras coisas que lhes chamem a atenção.

A barulheira sempre aumenta quando vem alguém com outro cachorro junto. Aqui na rua, muita gente passa com dogs nas coleiras e eles fazem aquela festa de latidos. A gente sempre vai atrás, briga, chama e eles voltam serelepes com seus rabinhos abanando. Não são cachorros violentos, ao contrário, são dóceis ao ponto de conviverem com dez gatinhos que ficam pela rua e se alimentam na porta da nossa casa, inclusive, circulando internamente pelos cômodos.

Ontem à noite, 05 de abril, saímos juntos mais uma vez. Em certo ponto do trajeto (curto), ao avistar um rapaz (jovem) com seu Pitbull na coleira, eles fizeram o que sempre fazem, latem, se aproximam correndo, mas sempre ficam a uma certa distância numa grande algazarra. Na maioria das vezes, as pessoas acham graça, puxam seu cão e saem, ao mesmo tempo que a gente sempre chega perto afastando os traquinos da diversão imprópria.

Ontem foi diferente. Quando a gente já saía com os cachorros e seguia nossa caminhada, o rapaz parou e disse: “ainda bem que eu estou com esse cachorro aqui, o outro é mais feroz, se fosse ele não ia dar certo, coloque seus cachorros na coleira”.

Eu até tentei dizer que eles não faziam nada, além de barulho e disse que ele segurasse o cachorro feroz dele com cuidado. O meu tom de voz tinha até um pouco de riso e de brincadeira, devido a nada ter acontecido além dos latidos corriqueiros. Contudo, o rapaz começou a falar alto no meio da rua, dizendo que da próxima vez eu ia ver (?!).

Assustada com a grosseria, lhe disse que se o cachorro dele era perigoso, ele deveria manter em casa ou, quando saísse, ele garantisse a segurança dos que também circulam nas ruas. Os meus cachorros não ofereciam perigo. Sem ouvir e muito alterado, ele começou a gritar e dizer ofensas em voz alta. Sem pensar e tomada de surpresa, eu respondi (ousadamente) que se ele agisse incitando o cão dele contra os pequenos, ia denunciá-lo na polícia. Dizendo isso, fui saindo com meus filhos que estavam atônitos com tamanha falta de educação e violência que se expunham nas palavras do rapaz.

Seguimos para casa pensando que, se estivéssemos acompanhadas de um homem adulto, ele não falaria naquele tom. Ele sequer (talvez) se importasse com dois Poodles barulhentos que, obviamente, não seriam páreo para os cães dele. À medida que voltava para casa, fiquei pensando como nós mulheres estamos vulneráveis o tempo todo. Como homens (?) desse tipo se sentem autorizados a nos ofender quando bem entendem? O que faz com que eles se sintam tão seguros em nos ameaçar de forma tão vil, seja qual for a circunstância?

Comentei com meus filhos sobre este aspecto cruel entranhado na sociedade e que temos que fazer forte combate. Lembramos que um outro dia, aconteceu algo parecido com outro rapaz que passava em frente da nossa casa (em um fim de tarde) e que os cachorros também fizeram a mesma algazarra. Ele de pronto, pegou uma pedra para jogar, eu falei que seguisse tranquilo que era só barulho e fui chamando os cachorros para entrarem em casa. Inconformado, o rapaz jogou uma das pedras (que por sorte não os acertou) e, ignorando a minha presença e o que eu estava dizendo, ele seguiu proferindo palavras grosseiras em tom ameaçador.

Os dois fatos vividos fazem com que eu repense as caminhadas noturnas com meus cachorros, nem na porta da minha casa, nem na rua onde moro, estamos seguras. A violência de “machos” babacas como esses, tira a nossa liberdade ainda que mínima, e o que podemos fazer nessas circunstâncias? Quem nos dá segurança? A quem recorremos em situações como essas e o que fazer para punir otários violentos e machistas que nada temem?

Não, nós mulheres NUNCA estamos seguras!



* Doutora em Educação e Professora da UNEB - Campus VII.