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A morte do petista Marcelo Arruda, que foi assassinado na festa de comemoração de seus 50 anos de idade por um policial bolsonarista, faz-nos pensar sobre os afetos e as disputas políticas. Se por um lado as disputas políticas estimulam a circulação de afetos; por outro, a dinâmica das disputas políticas é determinada pelos afetos em circulação. Quais afetos movem os sujeitos no sentido de torná-los protagonistas do processo de construção de um mundo melhor – mais justo, fraterno e solidário – e quais afetos bloqueiam a realização dessa utopia é objeto de muita reflexão. Lembrando que os afetos possuem uma estrutura ambivalente, já que eles têm uma dimensão que é positiva e uma dimensão que é negativa. Por exemplo, o ódio pode ser vivenciando como uma experiência positiva de separação do outro em vista da autonomia do eu, ou como uma experiência destrutiva de eliminação do outro, que se tornou, para o eu, um indesejável. A esperança, se vivenciada somente como a certeza de que algo de bom vai inevitavelmente acontecer, pode rapidamente se converter em frustação e ressentimento, caso o futuro desejado não se concretize. Porém, a vivência da esperança ancorada na fé e na confiança anima a caminhada, com suas idas e vindas, em busca de uma utopia desejada.

Os afetos circulam num ambiente político, econômico e social específico, determinando a ação dos sujeitos. Esse ambiente é construído. No caso do Brasil, levando em conta as declarações, atitudes e ações de Jair Bolsonaro, o sujeito que por hora ocupa a cadeira de presidente da república, uma pergunta sugere algumas respostas: por que Jair Bolsonaro aposta tanto na estratégia da violência real para obter ganhos político-eleitorais?

Para essa pergunta, existem muitas respostas de natureza sociológica, histórica, política, psicológica e até teológica. Há aqueles que dizem que é apenas desespero de alguém que sabe que vai perder as eleições, quiçá no primeiro turno. Outros dizem que seu objetivo é promover um golpe para se manter no poder e com isso continuar abafando seus B.Os e de sua família. Ademais, falam de sua estrutura psíquica de pessoa psicopata, ou de sua personalidade dia-bólica. Por fim, há quem diga que o quê ele quer é suspender as eleições de outubro, o que no fim das contas seria uma atitude golpista.

Que Bolsonaro incita diariamente atitudes golpistas desacreditando as instituições, como o TSE e o STF, não há dúvida. Para que o golpe se efetue, é preciso criar o ambiente. Para suspender as eleições, idem. Por isso, a estratégia da violência real é adotada. O objetivo é estabelecer o caos para, em nome da segurança, cancelar as eleições. Para isso, é preciso estimular a circulação de afetos que, se mal administrados, podem gerar divisão entre as pessoas. Exemplo, ódio, raiva, medo.

Se o cenário que se apresenta é esse mesmo e se as instituições não reagirem, infelizmente Marcelo Arruda não será o único. Imagina se, nesse ambiente de violência real, um petista decidir matar um bolsonarista! Felizmente, o único candidato que joga o tempo todo com o caos é Bolsonaro. 

Para quem se interessa com a reflexão a respeito da relação entre afetos e política, a dica da Aroeira para este final de semana sugere assistir ao diálogo entre o filósofo Vladimir Saflate e a psicanalista Maria Rita Kehl no Café Filosófico. O debate apoia-se nos achados da psicanálise. Alerta: o diálogo é de uma riqueza extraordinária e precisa ser assistido mais de uma vez, porque ele traz muitas reflexões pertinentes, atuais e profundas. Fica a dica!