Imagem/Renata Rêgo

Na última quarta-feira, 23/11/22, aconteceu, no auditório do polo da UNIFAN (Faculdade Alfredo Nasser) em Casa Nova/BA, mais uma etapa da programação que a Pastoral Afro-Brasileira da Diocese de Juazeiro/BA vem realizando neste mês de novembro, o Mês da Consciência Negra, na cidade de Casa Nova. Com o tema “No Brasil democrático, vidas negras importam”, os/as estudantes universitários da instituição participaram de uma roda de conversa que foi facilitada pela equipe de comunicação da Aroeira Comunica.

Estudantes universitários da UNIFAN/Imagem: Renata Rêgo 

Na ocasião, os dois facilitadores, Saiure Ribeiro e Marcos Paulo, conduziram o momento de diálogo e discussão propondo uma reflexão a respeito do uso, no Brasil, da legislação para segregar a população negra escravizada. Lembraram que aqui o regime da escravidão durou mais de 350 anos e para cá foram trazidos, ao longo desse tempo, mais de quatro milhões de africanos escravizados. Dispositivos legais a exemplo do Código Criminal de 1832 e a Lei de Terras de 1850 aprofundaram a segregação da população negra, deixando marcas no Brasil mesmo após a abolição oficial da escravidão, a ponto de poder se falar que neste país a liberdade das pessoas negras é precária.

Marcos Paulo e Saiure Ribeiro, facilitadores do evento/Imagem: Renata Rêgo

O racismo nas redes sociais também foi tema da roda de conversa. Essa realidade é tão frequente que o sociólogo Luiz Valério Trindade chega a dizer que “os pelourinhos do Brasil moderno do século XXI são as redes sociais”. Das vítimas de racismo nas redes sociais, cerca de 80% são de mulheres pretas. Das estratégias de combate a essa forma de violência, destaca-se a educação e a formação de consciências críticas antirracistas, assim como a necessidade de se denunciar essa prática. Na Bahia, o Ministério Público lançou o aplicativo, que acolhe denúncias de racismo, chamado Mapa do Racismo e Intolerância Religiosa.

Por fim, como em uma sociedade que é marcadamente racista não basta apenas não ser racista, mas, sobretudo, é necessário ser antirracista, foram apresentadas maneiras de se praticar o antirracismo, tais como: a valorização da negritude e o reconhecimento de que a branquitude possui privilégios; a não negação do racismo; o apoio às políticas de ação afirmativa e de mais representatividade negra nos ambientes de trabalho; fazer também a leitura de autoras e autores negros; combater a violência racial; entender que os desejos e os afetos são construídos socialmente; e questionar a maneira como as pessoas negras são representadas na cultura que se é consumida.

Da esquerda para direita: Renata Rêgo, Maria do Socorro, Pe. José Benedito, Saiure Ribeiro, José de Andrade, diretor-geral da UNIFAN Casa Nova, Marcos Paulo e Wagner Lima/Imagem: Renata Rêgo

Para Padre José Benedito Rosa, que é coordenador da Pastoral Afro-Brasileira da Diocese de Juazeiro/BA, o evento foi bastante positivo, “tanto pelo conteúdo refletido, quanto pelo envolvimento e participação do corpo docente e discente da UNIFAN”. 

Renata Rêgo, diretora institucional da UNIFAN, agradeceu a parceria da instituição com a Igreja Católica, na pessoa do Padre Bendito, pároco da paróquia de São José Operário em Casa Nova, e reafirmou o compromisso da UNIFAN com as pautas antirracistas. Já a professora Maria do Socorro disse que o conhecimento é libertador; por isso, momentos assim são muito especiais, porque “a gente aprende a nos valorizarmos enquanto negros nessa sociedade que é tão racista e tão preconceituosa”.

Joelson Carvalho, que é estudante do curso de Contabilidade da UNIFAN, considera que o dia foi “muito importante para a luta antirracista” em Casa Nova. Ele destacou a ótima participação dos/as estudantes dos cursos de graduação da Faculdade Alfredo Nasser. Já o vereador do município e estudante do curso de Direito, Wagner Lima, afirmou que “nós precisamos resistir sempre e descontruir o racismo, que é estrutural”, buscando construir políticas de afirmação. Ele lembrou que a Câmara de Vereadores/as de Casa Nova está para aprovar o Estatuto da Igualdade Racial e de Combate ao Racismo Religioso.