Imagem de Iemanjá

Dia de 02 de fevereiro é o dia em que os povos de terreiro e devotos de Iemanjá celebram a presença amorosa da mãe de quase todos orixás e protetora dos/as pescadores/as. Em Remanso/BA, há mais de 20 anos, o terreiro Ilê Axé Ossamunilê da ialorixá Elenita Rocha promove um cortejo com a imagem da orixá pela avenida Eunápio Peltier de Queiroz em direção ao cais da cidade. No caminho, há mais de quinze anos, o cortejo passa pela Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário para agradecer a santa padroeira de Remanso, assim como ao pároco da paróquia pela receptividade e gesto de acolhimento e de respeito inter-religioso.

Cortejo em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário

O nome Iemanjá é de origem iorubá, sendo que o termo Yéyé Omó Ejá, em uma tradução literal, significa “mãe cujos filhos são peixes”. Originalmente, sua imagem sempre foi representada por uma mulher negra; porém, devido ao sincretismo religioso, e sobretudo à violência cultural, ela foi sendo embranquecida, ao longo do tempo, para assumir traços europeizantes.

Iemanjá é o arquétipo da maternidade. Mãe dos/as orixás, ela acolhe todas as pessoas que adentram seu domínio, que é o mar; por isso, protege os/as pescadores/as. Vaidosa, adora receber presentes; generosa, não mede esforços para retribuir todos/as aqueles/as que lhes fazem oferendas. De fato, é dando que recebe, como afirma a oração de São Francisco de Assis.

No cais de Remanso, a saída dos devotos para a entrega dos presentes

O Brasil é um país marcadamente racista. O racismo, uma das heranças dos mais de 350 anos de escravidão, evidentemente se expressa também na religião. Em 2022, 78,4% dos pais e mães de santos afirmaram que foram vítimas de violência, seja por intolerância, seja por racismo religioso. É o que mostrou um levantamento sobre as religiões de matriz africana realizado pela Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileira (RENAFRO) e pela entidade Ilê Omolu Oxum. Esta pesquisa revelou ainda que quase 92% dos entrevistados já ouviram algum tipo de preconceito por causa da sua religião.

Certamente, um dos caminhos para superação do racismo religioso é a intensificação do diálogo inter-religioso sincero e fraterno, porque ele contribui com a constituição de uma nova mentalidade e com a prática de novas atitudes. Foi com este espírito que a paróquia de Nossa Senhora do Rosário decidiu, há alguns anos, pela abertura das portas da igreja para acolher os povos de terreiro.         

Ocorre que, por conta das medidas protetivas contra a pandemia da covid-19, nos últimos dois anos, os/as devotos/as de Iemanjá não puderam adentrar o espaço interno da igreja. Pois bem, o que chamou a atenção de muitos/as daqueles/as que acompanharam o cortejo deste ano de 2023 foi que eles continuaram sem poder entrar na igreja, a despeito de toda a flexibilização das medidas após a vacinação da população. Somente mãe Elenita e outras duas devotas tiveram a permissão de fazê-lo. Que este episódio tenha sido pontual e não represente um retrocesso no diálogo com povos de terreiro de Remanso.  


+ IMAGENS DO DIA DE IEMANJÁ EM REMANSO/BA:







Imagens: Mônica Sabrina - fotografia lifestyle.