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Imagem/Reprodução |
Por Saiure Ribeiro*
Nas
últimas semanas, diante da ameaça do red pill contra a atriz que usou do humor
para rebater a misoginia, várias discussões sobre o tema tomaram as redes. A
psicóloga e pesquisadora Valeska Zanello apresentou uma petição para a
criminalização da misoginia. Muitas foram as opiniões contrárias e a favor! A
jornalista Débora Diniz expressou sua indignação com tal proposta, falando de
"feminismo punitivista", dizendo que as leis do Estado são
patriarcais e serviria as mulheres apenas como uma sede de vingança vazia.
Concordo com a fala de que as leis do Estado são patriarcais, mas em nada me
identifico com a sede de vingança vazia. E explico com um exemplo o porquê!
Na
última quinta (16/03), entrei nas redes e me deparei com cenas repugnantes de
assédio e importunação sexual contra a participante estrangeira Dania, que entrou
essa semana no BBB – frise-se, a casa mais vigiada do Brasil – logo na sua
chegada ela foi vista como um corpinho bonito, dado os olhares e falas,
principalmente, dos brothers. Na mesma noite, aconteceu a festa do então líder
Mc Guimê, casado com a cantora Lexa (e irei falar sobre isso em outro texto).
Como um
show de entretenimento e regado a muita bebida, foram televisionados todos os
atos pífios dos participantes com a mexicana. Primeiro, temos ela sendo rodeada
pelos homens da casa, depois Guimê, como se aquele corpo o pertencesse, passou
a mão na bunda de Dania, que retirou quando percebeu. Ele também repetiu a ação
com a sister Bruna Griphao.
Mais
tarde, na festa e depois no quarto, o lutador Antônio Cara de Sapato, insistiu
em beijar Dania até roubar um beijo. Dania já havia se esquivado, já havia dito
"já chega, não" e mesmo assim ele continuou. E, inclusive, de
"brincadeirinha" a imobilizou e ficou a beijando no rosto.
A ação,
como tudo no mundo de hoje, causou euforia nas redes ao longo do dia. Até a
noite de quinta quando Tadeu anuncia a expulsão de Mc Guimê e Antônio Cara de
Sapato. O anúncio é recebido na casa com grande surpresa pelos participantes e
Dania se põe a chorar como se a culpa da expulsão dos dois fosse dela. Um
reflexo de como nessa sociedade patriarcal, mesmo quando nós, mulheres, somos
vítimas, nos sentimos culpadas ao ver nossos algozes sendo punidos devidamente!
O ponto
em questão é: independentemente da quantidade de álcool ingerido por eles, não
há justificativa para a ação, além de misoginia e machismo, que internaliza em
homens, em especial brancos e ricos, um senso de superioridade e permissibilidade
que os fazem pensar ser permitido fazerem o que quiserem com o corpo de uma
mulher, seja passar a mão, seja roubar um beijo.
Quando
se habita um corpo dito feminino, é preciso coragem para perceber as micro e, as
vezes, macro violências que nos atravessam. Assim, nomear e legislar sobre as
violências que nos cercam não é punitivismo ou vingança vazia, mas justiça!
Ao
longo de uma história que retirou de nós, mulheres, o direito pela própria
vida, pelo próprio corpo e nos relegou ao lugar de seres de segunda classe, é
preciso sim punir quem ainda acha que nosso corpo é espaço de livre acesso;
quem ainda não entendeu que nosso não é não; quem não nos aceita somos sujeitas
capazes e de opinião!
Cobrar
dos homens atitudes de respeito pelas mulheres em suas diversas dimensões é o
mínimo que podemos exigir diante de uma história marcada pela violência. Que
esse triste episódio sirva de exemplo.
Assim,
afirmo que requerer justiça pelas leis, é um direito e um dever do Estado que
tanto nos limitou! Dialogar com homens é o que mais fizemos e eles nunca
escutaram! Agora, que cada marmanjo banque seu machismo!
* Graduanda em História pela Universidade de Pernambuco.
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